No século XIX, os cemitérios eram considerados pelos médicos higienistas como os responsáveis por diversas doenças, devido ao contato com a terra “corrupta” desses locais. O primeiro cemitério no perímetro da vila de Nova Friburgo localizava-se onde hoje fica o prédio da maçonaria, na Rua Sete de Setembro. Há informação de que numa reforma realizada há alguns anos atrás no prédio da maçonaria, foram encontradas ossadas dos primeiros habitantes da vila. Em 1846, a Câmara resolveu mudar a localização do cemitério da Rua Sete de Setembro. As constantes enchentes que ocorriam no Rio Bengalas inundavam o cemitério fazendo com que alguns corpos emergissem devido a ação água, abrindo sepulturas e provocando grande constrangimento na vila, não bastasse o risco de acarretar doenças. Mas além da situação geográfica do cemitério da Rua Sete de Setembro ser desfavorável, devido as enchentes, urgia ainda a construção de um cemitério maior, “último depósito dos viventes”, tendo em vista que, com o aumento da população, os enterros eram realizados sobre cadáveres ainda “não deteriorados”. Optou-se pelo morro fronteiro à Rua do Senado(atual Alberto Braune), isto é, no local onde o cemitério se encontra atualmente. Em Nova Friburgo, além do cemitério público, haviam diversos cemitérios particulares espalhados pelas freguesias do município e pelas fazendas nos arredores da vila. Foram muitos os pedidos à Câmara Municipal de licença para se fazer um cemitério protestante nas propriedades de colonos suíços e alemães, devido a longa distância de suas terras nos números coloniais até a vila.
Por volta de 1860, Conrado Satler, morador das Cachoeiras de Macahé, confessando a religião cristã evangélica, visto não haver cemitério para seus “correligionários” senão a distância de duas léguas, requer estabelecer um cemitério de sua crença em sua fazenda. Em Nova Friburgo, eram inúmeros os cemitérios: Cemitério da Irmandade do Santísimo Sacramento(o atual), Cemitério de Santo Antonio, na freguesia de São José do Ribeirão, Cemitério dos Números, Cemitério do Alto Macahé, Cemitério de Eggendorn, Cemitério de São José, Cemitério de Lumiar, Cemitério do Córrego Sujo, fora os cemitérios localizados em inúmeras fazendas. Em 1870, convindo por cobro ao abuso dos cemitérios particulares, o governo provincial recomendou que se proibissem por meio de posturas, os enterramentos fora dos cemitérios públicos ou que as Irmandades autorizassem. Onde eram enterrados os escravos ns vila de Nova Friburgo? Há referência de um cemitério onde os mesmos foram sepultados, o Cemitério do Oratório de Santo Antonio, mas não há indicação de sua localização. Brancos pobres eram igualmente enterrados nesse cemitério. Surpreendentemente, há registro no Livro de Registro de Óbitos na Catedral São João Batista de alguns escravos enterrados no cemitério da Irmandade, uma entidade formada pela elite da época. Um surto de cólera ocorrido em 1865 na Europa e nos Estados Unidos assustou as autoridades do governo imperial. Como disse antes, os cemitérios sempre foram alvos dos médicos higienistas. Recomendou-se à Câmara, entre outras medidas, fiscalizar os cemitérios públicos e particulares, afastando-os quando possível dos centros das povoações. Em 1868, se discutiu sobre a mudança do cemitério da vila para fora do povoado. O governo provincial oferecia aos municípios condições para sua transferência, caso considerassem sua localização prejudicial à salubridade. Quando a Presidência da Província solicitou à Câmara de Nova Friburgo que informasse se convinha a mudança do cemitério da vila, respondeu-se que a transferência era de grande necessidade, visto que o cemitério estava localizado em um morro, tornando-se difícil a condução dos enterros, além de ser “contristador”, por encontrar-se na entrada da vila. No entanto, o que mais preocupava a população era o fato de ser o cemitério um foco de doenças. Segundo ata da Câmara, “estando o cemitério colocado dentro da área da povoação se torna anti-higiênico e, por conseguinte, afetando de algum modo, a salubridade pública...”. Mas nessa ocasião, nada se fez de concreto.
Em 1892, novamente entra em pauta na Câmara Municipal a transferência do cemitério para os arrabaldes da cidade, indicando-se o atual bairro de Duas Pedras. O motivo da remoção era novamente de ordem sanitária, pois já se consolidara o entendimento de uma corrente de higienistas de que a terra dos cemitérios estava impregnada de miasmas morbíficos. Essa mudança não logrou êxito por pressão da própria elite friburguense, mais especificamente por um grupo de notáveis, como o Barão de Duas Barras e Galdino do Vale, que sustentavam que a cidade crescia pelas bandas de Duas Pedras, já havendo muitas habitações no local, conforme noticiava a Gazeta de Friburgo de 20 de outubro de 1895. E assim, o cemitério persiste até hoje no mesmo local. Outrora, havia ainda uma área no cemitério demarcada para o enterro somente de crianças, a “quadra dos anjos”. Cabe por fim destacar que no passado, por ocasião do aniversário da cidade, costumava-se fazer uma peregrinação aos túmulos dos primeiros habitantes da vila, tecendo-lhes preito. O Cemitério Luterano igualmente nos fornece boas fontes históricas. Essa matéria, feita por ocasião do dia de finados, serve apenas para demonstrar que mal nos damos conta de que os cemitérios, além de serem um local onde repousam os nossos mortos, são lugares de MEMÓRIA DA CIDADE.
Por volta de 1860, Conrado Satler, morador das Cachoeiras de Macahé, confessando a religião cristã evangélica, visto não haver cemitério para seus “correligionários” senão a distância de duas léguas, requer estabelecer um cemitério de sua crença em sua fazenda. Em Nova Friburgo, eram inúmeros os cemitérios: Cemitério da Irmandade do Santísimo Sacramento(o atual), Cemitério de Santo Antonio, na freguesia de São José do Ribeirão, Cemitério dos Números, Cemitério do Alto Macahé, Cemitério de Eggendorn, Cemitério de São José, Cemitério de Lumiar, Cemitério do Córrego Sujo, fora os cemitérios localizados em inúmeras fazendas. Em 1870, convindo por cobro ao abuso dos cemitérios particulares, o governo provincial recomendou que se proibissem por meio de posturas, os enterramentos fora dos cemitérios públicos ou que as Irmandades autorizassem. Onde eram enterrados os escravos ns vila de Nova Friburgo? Há referência de um cemitério onde os mesmos foram sepultados, o Cemitério do Oratório de Santo Antonio, mas não há indicação de sua localização. Brancos pobres eram igualmente enterrados nesse cemitério. Surpreendentemente, há registro no Livro de Registro de Óbitos na Catedral São João Batista de alguns escravos enterrados no cemitério da Irmandade, uma entidade formada pela elite da época. Um surto de cólera ocorrido em 1865 na Europa e nos Estados Unidos assustou as autoridades do governo imperial. Como disse antes, os cemitérios sempre foram alvos dos médicos higienistas. Recomendou-se à Câmara, entre outras medidas, fiscalizar os cemitérios públicos e particulares, afastando-os quando possível dos centros das povoações. Em 1868, se discutiu sobre a mudança do cemitério da vila para fora do povoado. O governo provincial oferecia aos municípios condições para sua transferência, caso considerassem sua localização prejudicial à salubridade. Quando a Presidência da Província solicitou à Câmara de Nova Friburgo que informasse se convinha a mudança do cemitério da vila, respondeu-se que a transferência era de grande necessidade, visto que o cemitério estava localizado em um morro, tornando-se difícil a condução dos enterros, além de ser “contristador”, por encontrar-se na entrada da vila. No entanto, o que mais preocupava a população era o fato de ser o cemitério um foco de doenças. Segundo ata da Câmara, “estando o cemitério colocado dentro da área da povoação se torna anti-higiênico e, por conseguinte, afetando de algum modo, a salubridade pública...”. Mas nessa ocasião, nada se fez de concreto.
Em 1892, novamente entra em pauta na Câmara Municipal a transferência do cemitério para os arrabaldes da cidade, indicando-se o atual bairro de Duas Pedras. O motivo da remoção era novamente de ordem sanitária, pois já se consolidara o entendimento de uma corrente de higienistas de que a terra dos cemitérios estava impregnada de miasmas morbíficos. Essa mudança não logrou êxito por pressão da própria elite friburguense, mais especificamente por um grupo de notáveis, como o Barão de Duas Barras e Galdino do Vale, que sustentavam que a cidade crescia pelas bandas de Duas Pedras, já havendo muitas habitações no local, conforme noticiava a Gazeta de Friburgo de 20 de outubro de 1895. E assim, o cemitério persiste até hoje no mesmo local. Outrora, havia ainda uma área no cemitério demarcada para o enterro somente de crianças, a “quadra dos anjos”. Cabe por fim destacar que no passado, por ocasião do aniversário da cidade, costumava-se fazer uma peregrinação aos túmulos dos primeiros habitantes da vila, tecendo-lhes preito. O Cemitério Luterano igualmente nos fornece boas fontes históricas. Essa matéria, feita por ocasião do dia de finados, serve apenas para demonstrar que mal nos damos conta de que os cemitérios, além de serem um local onde repousam os nossos mortos, são lugares de MEMÓRIA DA CIDADE.
A autora:
Janaína Botelho é autora do livro O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX. Para ler outras matérias acesse http://historiadefriburgo.blogspot.com/
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